Moradores do 'minipantanal paulista' falam sobre dia a dia após tragédia ambiental em julho
Despejo irregular de poluição matou 235 mil peixes no Rio Piracicaba, a maioria na área de preservação. Ainda em recuperação, os moradores também precisam lidar com a falta de chuva. EPTV 45 anos: produtores locais têm o auxílio da previsão do tempo para melhorar o cultivo No local que serve de lar para mais de 300 espécies de plantas e de 435 espécies de animais, a natureza se exige e as paisagens se misturam em meio aos rios e lagos em uma paisagem única, formando o “minipantanal paulista”. A Área de Proteção Ambiental (APA) Tanquã-Rio Piracicaba é um santuário de biodiversidade e de conservação de uso sustentável. A pequena vila que existe no paraíso escondido no interior do estado é lar de 50 pessoas, que tiram seu sustento da pesca ou da produção local no Tanquã. A área é formada na foz do Rio Piracicaba, quando ele chega ao Rio Tietê, no início do reservatório formado pela barragem de Barra Bonita. Participe do canal do g1 Piracicaba no WhatsApp 📲 Em mais uma reportagem especial de comemoração dos 45 anos de EPTV, afiliada da TV Globo, a equipe esteve no minipantanal paulista para conversar com moradores e mostrar como tem sido o processo de recuperação após uma grande tragédia ambiental que atingiu a região, em julho, e sobre a ligação dos habitantes da pequena vila com a natureza e a preservação. Produtor de leite 🐄 Antonio Pires é morador do Tanquã e trabalha com sua produção local de leite Reprodução/EPTV O sol acaba de surgir, dando início ao dia. Antonio Pires, o Seu Antonio, também já está de pé, se preparou para começar as tarefas. O produtor local começa a primeira atividade, cuidando dos bezerros e das vacas. Depois de deixar os filhotes se alimentarem com as mães, é hora de tirar o leite. Mas a produção tem sido fraca, diz o produtor. “Muito pouco. Uns dois litros, acho. O pasto está fraco”, explica. A falta de chuvas e a seca têm causado o enfraquecimento do vegetação e do pasto, afetando a alimentação e a produção de leite das vacas. Ele conta ao repórter que, para quem mora no campo, afastado da cidade, assim como ele, é muito importante poder se manter informado por meio da televisão. Depois de tirar o leite das vacas, o produtor faz uma filtragem do líquido, que será usado para produção de queijo. A próxima tarefa é conferir se as galinhas, que vivem soltas pela propriedade, botaram ovos. Para finalizar a manhã, é uma vez de cuidar dos porcos, que são alimentados com milho. Em meio às tarefas do seu dia, Seu Antonio arruma um tempinho para poder conferir os telejornais da EPTV e se manter informado sobre o que aconteceu na região. Depois de se despedir, o produtor prepara seu cavalo para montaria. É preciso dar continuidade aos trabalhos e a próxima parada é o passado. Ele segue uma cavalgada em meio à paisagem privilegiada do Tanquã para finalizar o dia. Seu Antonio finaliza a manhã assistindo aos telejornais da EPTV, e depois segue para o cuidado do passado Reprodução/EPTV Ligação com a natureza e preservação 🌱 O pequeno grupo de pessoas que vive no Tanquã leva uma vida diferente da população dos centros urbanos. Nilson Abrahão, o “Alemão”, vive há 30 anos na área de proteção e, para ele, é uma oportunidade única. “É um privilégio, porque a gente é nascida e criada na cidade e, quando a gente veio pra cá conhecer a natureza de perto, é morar no paraíso. Não consigo explicar isso com palavras, é uma emoção tão grande que não tem como explicar “, relata. A tragédia que atingiu a área do Tanquã em julho afetou a fauna e a flora e os moradores da região, mas Nilson ressalta a capacidade de resistência do ecossistema. “A natureza é maravilhosa, ela não deixa nada pra depois. O homem tenta destruir, mas a natureza dá seu jeitinho e se recupera”, finaliza o morador. APA Tanquã-Rio Piracicaba Governo do Estado de São Paulo A vila do Tanquã 🛖 Fundada há cerca de 50 anos, o bairro do Tanquã mantém raízes familiares e de conexão com a natureza. O pescador Adilson Evangelista, filho do fundador, vive até hoje no local. Ele contou que seu pai o ensinou muito sobre o lugar, em especial sobre a necessidade de preservar a fauna e a flora. Vendo o desastre pelo qual a área passou, o pescador frisa que a situação tem sido complicada. “Tá muito difícil recuperar. Acho que vai uns 10 anos, no mínimo.” Mas a intervenção do homem não muda a admiração e o amor pelo lugar onde cresceu e hoje cria seus filhos, cercado pela natureza e pelo cenário paradisíaco. “Me sinto privilegiado de morar em um lugar como esse. Criança você pode criar solta, é uma maravilha. É uma satisfação”, agradece o pescador. Desastre ambiental em julho Peixes mortos na APA do Tanquã, em São Pedro Jefferson Souza/ EPTV Em julho deste ano, a maior mortalidade de peixes já registrada no Rio Piracicaba, que chegou até a Área de Proteção Ambiental (APA) do Tanquã, no interior de São Paulo, matou cerca de 253 mil peixes em um trecho de 70 quilômetros. O dano ambiental gerou uma multa de R$ 18 milhões à Usina São José, de Rio das Pedras (SP), apontada pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) como origem da poluição que gerou mortes de animais. O Ministério Público e a Polícia Civil também investigam o caso e a empresa diz que não foi comprovada a responsabilidade dela. VÍDEOS: Tudo sobre Piracicaba e região Veja mais notícias da região no g1 Piracicaba